segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O que é Paleoarte?
Pela morfologia da palavra Paleoarte, poderíamos deduzir que é a arte ligada à paleontologia e realmente é mais ou menos isso, de uma forma um pouco complexa. Muitos de nós, e me refiro aos apaixonados por vida pré-histórica, gostamos de desenhar os animais extintos, por vezes desde a infância e isso acaba tornando-se um hábito, levando-nos a aprender sobre arte, desenho, pintura e escultura, tanto manual quanto virtual/digital e também a aperfeiçoar nossas técnicas, melhorando as habilidades ao ponto de retratar qualquer animal que desejamos e da forma que os imaginamos.
De acordo com o que entendi da pesquisa que li, poderia simplificar da seguinte maneira: Paleoarte é um conjunto de técnicas usado para criar uma concepção artística de um ser vivo e/ou ambiente extinto a partir de espécies fósseis, com finalidade acadêmica (uso em universidades e pesquisas científicas), didático (para ensinar a respeito de terminado tema) ou estética (em filmes, desenhos, revistas, brinquedos, entretenimento em geral).
Dentro da Paleoarte estariam subcategorias, como Paleoreconstrução, Paleoreconstituição e Paleorestauração, bem como um novo conceito criado pelos autores chamado Paleodesign, que estão explicados individualmente a seguir.
Na verdade, as primeiras 3 subcategorias são termos usados por vezes como sinônimo de paleoarte, em uma visão geral e ampla, mas devido às confusões observadas por Felipe Elias e seus colegas, em que determinado pesquisador usa cada termo genericamente opondo-se à outro que entende cada um como uma área específica, os autores optaram por definir de forma mais direta possível o que é cada um dos 4 termos propondo que sejam tratados como subcategorias que integram a paleoarte, a partir das definições semânticas das palavras reconstituição, restauração, design e reconstrução. A semântica estuda o significado/sentido de uma palavra.
Paleoreconstrução: tentando simplificar, posso dizer que é a tarefa de organizar as partes de um fóssil completo de acordo com estudos de biomecânica tentando montá-lo da forma que era em vida. Exemplo: encontro um esqueleto completo de um dinossauro, porém todo desmontado. Através da arte eu devo desenhar ou esculpir o esqueleto montado como o animal era em vida.
Paleorestauração: é a recuperação visual de fósseis deformados ou danificados por processos de preservação. Exemplo: devo colar partes de um osso para montá-lo porque quebrou-se durante a fossilização, remoção do solo ou porque foi armazenado de forma inadequada o que provocou prejuízos ao material.
Paleoreconstituição: é o tipo de paleoarte em que incluímos na obra uma característica, uma parte do corpo de uma espécie fóssil qualquer que não foi preservada no processo de fossilização. Exemplo: quando desenho um terópode do qual encontraram apenas ossos, dou à ele uma pele com escamas e/ou penugem e um padrão de cor. Tais elementos não ficaram preservados, então tive de incluir de acordo com deduções baseadas em dados científicos de outros fósseis ou animais análogos atuais.
Paleodesign: De acordo com os próprios autores, é a representação da aparência externa em vida de qualquer organismo fóssil envolvendo um estudo detalhado de técnicas, suportes e dados referentes à morfologia, fisiologia e ecologia do organismo.
Exemplo: do meu ponto de vista, creio que a representação de um dinossauro terópode da espécie Tyrannosaurus rex, retratando sua aparência, incluindo algum possível comportamento e funcionamento do corpo em relação a um nicho ecológico num ambiente do Cretáceo Superior, estágio Maastrichitiano da América do Norte com base nos dados científicos disponíveis apresentados de acordo com sensibilidade estética do artista é paleodesign.
Lembrando que paleodesign é um termo criado e proposto pela primeira vez neste trabalho pelos respectivos autores com intuito de tornar mais definida esta área da paleoarte.

O que preciso para retratar algo cientificamente correto?
Segundo o que compreendi lendo o artigo, para se realizar uma ilustração ou escultura de uma espécie extinta, estando ou não em seu ambiente natural, devemos ter um conhecimento científico atualizado e aprofundado sobre o que pretendemos retratar, principalmente se o intuito é passar conhecimento, informação, ensinar a partir da obra de arte.

Não basta eu pegar um lápis e desenhar, um Tiranossauro por exemplo, da forma como o conheço ou apenas com base em um outro desenho, filme ou brinquedo para que a obra criada por mim seja considerada cientificamente correta, por isso eu primeiramente precisaria consultar se possível, os fósseis reais do animal pessoalmente.

Caso não seja possível o acesso ao material, a literatura é o caminho certo e é através de pesquisas científicas a respeito do animal, da forma, tamanho e composição dos ossos, do tipo de rocha em que foi encontrado, que eu devo começar a elaborar a minha arte.
São necessários dados a respeito de como cada osso se ligava ao outro para formar o esqueleto, é preciso compreender como o animal morreu, se seus restos foram movidos para outro local após a morte e como isso ocorreu.
É preciso compreender qual a organização das camadas sedimentares que envolvem o fóssil e quais camadas estão acima ou abaixo, qual a idade dos restos e qual o tipo de fossilização a que o animal foi submetido, como era o funcionamento de seu corpo, como movia-se, qual seu parentesco com outros animais. Além de tudo isto, é preciso ter conhecimento a respeito dos animais atuais, análogos aos extintos, para poder talvez deduzir com maior precisão como deve-se retratar características do animal que não se preservam no fóssil.
Análogos seriam animais semelhantes, como temos atualmente o Tatu que é um análogo moderno do Doedicurus e outros gliptodontes. Para o Smilodon, temos o Leão, o Tigre, a Onça e outros felinos grandes como análogos. Estes exemplares modernos que se assemelham aos extintos permitem atribuir ao espécime fóssil características como hábitos alimentares, comportamento de caça e proteção, reprodução, cores e aparência que não são preservados nos fósseis por meio de comparação entre os restos com seus análogos, por meio de Anatomia Comparada.
Confira abaixo a diferença entre duas ilustrações, a primeira, de Felipe Alves Elias, retratando o terópode Spinosaurus. A segunda, retratando o mesmo animal, porém de forma diferente. A Segunda imagem é o modelo digital do animal usado e Jurassic Park 3. Percebam que há muitas diferenças entre os desenhos, a principal delas é o crânio. Suponho que o Felipe procurou retratar o animal de forma científica, buscando dados em pesquisas sobre o bicho para ilustrá-lo, enquanto que a Universal Pictures fez um animal para entretenimento, mais assustador, crânio mais forte, braços mais longos, cauda mais curta. É este o contraste entre duas imagens de um mesmo animal, quando uma obedece aos dados científicos e outra não.
Spinosaurus: este retrato tem base em dados científicos© Felipe Alves Elias
Spinosaurus de JP3: cientificamente incorreto
© Universal Pictures

Quais são as principais etapas para retratar algo de forma cientificamente correta ?

A partir do proposto no trabalho de Renato, Rodolfo e Felipe, no estudo que publicaram, existem algumas etapas que devem ser seguidas e que apresento de forma simplificada abaixo:

1º Etapa: Acumular o máximo de dados possíveis a respeito do que se pretende retratar, incluindo todos os aspectos mencionados anteriormente, desde aparência, tamanho, tipo de rocha onde o fóssil foi encontrado e todos os demais aspectos mencionados. Deve-se comparar o animal fóssil com análogos atuais que tenham relação ecológica ou filogenética com o espécime extinto.
Uma imagem do esqueleto ajuda muito a reconstrir um animal corretamente
© Dinocasts.com
2º Etapa: Realiza-se esboços do esqueleto do animal em diversos ângulos, especificamente o ângulo frontal, superior e lateral (o animal visto de lado, de cima e pela frente). Feito o esqueleto, deve-se adicionar esquemas de músculos e tegumentos, e só depois a textura e cor destes. Se necessário ou de interesse do artista, pode-se ainda adicionar olhos, pele e textura, entre outras características do corpo. Nesta etapa o retrato do animal está praticamente completo.
O Carnotauro de Rafael Albo foi baseado em um esqueleto como o visto acima, e veja como a representação fica bem similar ao observado no fóssil, estando a gravura já completa na parte de criação, faltando apenas pintura, que é facultativa.
Carnotaurus
© Rafael Albo

3º Etapa: Podemos fazer uma escultura digital do animal, respeitando aspectos anatômicos com textura de pele e todas as características, unindo o modelo digital a uma malha que permite a movimentação de partes isoladas da modelagem, para servir de esqueleto e permitir a movimentação do animal. Não é totalmente necessária, mas útil para testar a biomecânica do corpo e a capacidade de realizar determinado movimento naturalmente. Ajuda a entender o funcionamento, a locomoção do animal entre outros aspectos.

4º Etapa: Reconstrução do paleoambiente, incluindo representações do clima, solo, plantas, outros animais, um nicho ecológico completo incluindo aí o modelo digital produzido na etapa 3. Por fim cria-se a interação do animal com o ambiente, inserindo sombra do animal no ambiente e vice-versa, poeira, interação com as plantas e outros animais, entre outros fatores externos ao corpo que estejam em interação com o animal.

Qual a importância da Paleoarte?

A importância está na ponte criada entre a população leiga em geral e o conhecimento científico teórico, uma vez que nem todos tem acesso e/ou conhecimentos para interpretar dados usados em um ambiente acadêmico. Por outro lado, muitos tem acesso e conhecimento teórico a respeito, porém a leitura excessiva torna-se chata e provoca desinteresse, por isso as imagens são necessárias.
Mais importante ainda, é que imagens ajudam na compreensão de descrições dos seres vivos já extintos, ajudando na interpretação dos termos técnicos. Supondo que um determinado paleontólogo estudou um Trilobita encontrado no Brasil e publicou um estudo a respeito descrevendo o animal de acordo com o que viu no fóssil. Pesquisadores que não viram o mesmo fóssil podem assimilar com mais facilidade a descrição do animal se esta vem acompanhada de uma figura.
Se desejamos publicar uma descrição do paleoambiente de certo período, nada melhor do que uma imagem para ajudar o leitor a compreender o que queremos dizer, assim como desenhos ou modelos digitais atraem a atenção do público leigo para uma notícia que aparece na TV. Um museu vai atrair muito mais visitantes se mantiver em exposição um esqueleto montado de um animal ou uma escultura do mesmo em tamanho natural do que se exibir apenas os fósseis, que por vezes são de difícil compreensão para olhos não treinados.
A arte aplicada à ciência permite uma maior disseminação de conhecimento, atraindo o interesse de pessoas que não estão familiarizadas com aquele assunto.
Além disto, a paleoarte com função de entretenimento é bem interessante, uma vez que podemos criar modelos dos animais, por vezes não tão corretos cientificamente, mas interessantes do ponto de vista visual, como usado em filmes e em alguns documentários.


Bem, com isso eu concluo esta postagem, e espero ter conseguido demonstrar corretamente o que é paleoarte. Infelizmente não tive tempo de inserir mais imagens para exemplificar, o que parece irônico, pois na maioria das postagem coloco toneladas de fotos e nesta, especificamente sobre arte, só duas. Bem, pretende colocar mais algumas, porém preciso pesquisar quais exatamente, não gostaria de dar exemplos incorretamente. Se algum dos autores do artigo citado tiver interesse em contribuir ou encontrar alguma informação incorreta, ou mesmo outros artistas, por favor entrem

Nenhum comentário:

Postar um comentário